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segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

E Aquela Merda Lá no Brasil!? V. O Aniversário do 8 de Janeiro (Final)

Em evento realizado hoje em Brasília -solenidade intitulada “Democracia Inabalada”, - com a presença de representantes dos Três Poderes da República e de diversas autoridades, foram lembrados os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, que completam um ano no dia de hoje.

Uma ausência emblemática foi a do presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL), aliás, a maior parte dos políticos ligados ao “centrão”  não compareceu. Além disso, há alguns dias, um manifesto de repúdio à solenidade foi assinado por trinta senadores, a maioria do PL, PP, Republicanos, Novo e Podemos entre outros (algumas destas siglas respondem por ministérios no governo). Os signatários criticam um suposto abuso de poder por parte STF (Superior Tribunal Federal), que, segundo o documento, vem tentando assumir um protagonismo despropositado através  interpretações arbitrárias do texto constitucional, gerando um desequilíbrio entre os poderes e possíveis ameaças à democracia. Ainda que repudie os atos praticados no 8 de janeiro de 2023, o manifesto também considera abusivas as penas atribuídas pelo STF aos manifestantes condenados.

O que me espanta é que, apesar de tudo, da violência desmedida contra o patrimônio público e da evidente intenção de subverter a ordem constitucional, a gravidade dos fatos ainda é “relativizada” por parte considerável da sociedade brasileira. Este “relativismo”, é claro, é velado; está escondido nas entrelinhas, nas “desculpas esfarrapadas”, nas falsas intenções, nos discursos equivocados em nome da liberdade de expressão e no patriotismo intolerante.

Contudo, até agora, contamos com trinta condenações, a maioria em regime aberto. Nos casos mais graves - abolição do Estado Democrático de Direito, associação criminosa e deterioração do patrimônio público tombado- a pena chega a dezessete anos de reclusão. Das mais de duas mil pessoas presas entre os dias 8 e 9 de janeiro de 2023, quase novecentas aguardam julgamento em liberdade provisória. Trinta e três réus, vinte e cinco investigados e oito dos trinta já condenados permanecem presos.

A grande maioria dos condenados, réus e investigados são o que se costuma chamar de “massa de manobra”, ao menos segundo as informações que se tem até o momento.

“O que a gente tem visto é um financiamento muito horizontal, porque a extrema-direita no Brasil, assim como em boa parte do mundo neste tempo, é um fenômeno social real, com base de massa real [...]. Boa parte desse financiamento é de comerciantes de cidades pequenas, de cidades médias.” Disse o ministro da justiça em exercício Ricardo Cappelli numa entrevista concedida à revista CartaCapital no dia 8 de janeiro de 2024 (https://www.cartacapital.com.br/politica/8-de-janeiro-faz-um-ano-com-executores-enquadrados-e-interrogacao-sobre-bolsonaro-e-militares/).

Na mesma entrevista, o atual ministro diz ainda:

“Foram quatro anos do ex-presidente [Jair Bolsonaro] atacando as instituições, incitando a população contra as instituições, e essa situação se agravou após o resultado do segundo turno, quando foram montados aqueles acampamentos em frente aos quartéis-generais do Exército [...]. Não há precedente na história do Brasil de acampamentos golpistas montados em frente aos quartéis-generais do Exército”.

Quem sustentava os manifestantes acampados em frente aos quartéis do Exército em Brasília? Quem financiou o transporte e a alimentação das caravanas que chegaram para encorpar os protestos? Tudo isto foi realmente planejado somente através das redes sociais e financiado de forma “muito horizontal”, como sugere Ricardo Cappelli? E a leniência das forças de segurança antes e durante os protestos? E o tal esboço de decreto descoberto pela Polícia Federal na casa de Anderson Torres, ministro da justiça do governo Bolsonaro, que serviria para instalar uma espécie de “estado de defesa” na sede do TSE em Brasília?

NOTA: o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sempre foi alvo de críticas do ex-presidente Bolsonaro sobre lisura do processo eleitoral, principalmente em relação à possibilidade de fraudes na utilização das urnas eletrônicas.

Ainda são muitas perguntas sem resposta, mas o quadro geral que se pode desenhar a partir das investigações realizadas até o momento sugere a existência de uma trama bem complexa, com o envolvimento das forças de segurança do Distrito Federal, das Forças Armadas, principalmente do Exército, da Polícia Rodoviária Federal e de políticos de extrema-direita. Talvez, a quebra do sigilo bancário de alguns “atores”, principalmente daqueles “comerciantes de cidades pequenas, de cidades médias” citados pelo ministro Cappelli, possa trazer mais luzes ao caso.

O mais importante, porém, é que o resultado das eleições de outubro de 2022 foi mantido, prevaleceu a solidez das instituições democráticas e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, empossado em 01 de janeiro de 2023 consolidou-se no comando da nação.