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sábado, 28 de outubro de 2023

E Aquela Merda Lá no Brasil!? II. A Origem

Os acontecimentos do dia 8 dejaneiro de 2023 vêm na esteira do crescimento da extrema direita no Brasil e estão particularmente ligados ao que chamamos, hoje, de “bolsonarismo”. Tal crescimento, tão acentuado, não teria sido possível sem o “espaço de poder” deixado pela esquerda e pela centro esquerda ao longo dos dez últimos anos. Neste sentido, deve-se ressaltar mais especificamente a gradativa perda de influência do Partido dos Trabalhadores (PT) principalmente depois do impeachment da presidenta Dilma Rousseff em agosto de 2016.

O espaço deixado pela esquerda começou a ser disputado de forma muito hábil nos últimos anos por representantes de direita e centro direita agregados em torno de siglas como PL , PP, Republicanos, União Brasil (fusão do PSL, que elegeu o presidente Bolsonaro em 2018, com o DEM) e PSD, entre outros. De dentro desta panela conhecida como “centrão” emanam os principais extratos de extrema direita no Brasil. Sendo “mais ou menos” conservador em relação aos costumes e “mais ou menos” liberal do ponto de vista econômico, o atual centrão não possui um posicionamento político/ideológico muito claro. 

Segundo o professor Bruno Bolognesi, da Universidade Federal do Paraná -UFPR, são...

... “parlamentares que normalmente têm posições de centro-direita ou direita e têm como principal característica uma atuação parlamentar clientelista e fisiológica. Na verdade, no atual momento da história, o Centrão é um jeito de organizar um bloco parlamentar interpartidário, ou suprapartidário, de parlamentares fisiológicos. Esse grupo cresceu tanto que ganhou organicidade informal, sem consenso sobre quem está dentro e quem está fora”, define Bolognesi.

O centrão de hoje, acrescenta o cientista político, é “um grupo amorfo fisiológico, clientelista, e não tem nada de centro ideológico” (Política Brasileira. Afinal, o que é o centrão. https://www.goethe.de/prj/hum/pt/dos/ctr/24737158.html).

Neste processo de avanço da direita e da extrema direita, as manifestações populares de junho de 2013, as “jornadas de junho”, cuja data símbolo é o dia 13, foram uma espécie de ponto de inflexão. Os protestos, que ocorreram ao longo do mês em várias capitais contando com uma adesão cada vez maior, começaram na cidade de São Paulo e tiveram o apoio do Movimento Passe Livre (MPL). Eram manifestações contra o aumento de R$0,20 nas tarifas do transporte coletivo da cidade. Os primeiros atos foram violentamente rechaçados pelas forças de segurança e isto serviu de combustível ao movimento, que passou a contar com a simpatia e a gradual adesão da população em várias cidades importantes do país.

O interessante artigo da BBC, “13 de junho de 2013: a noite que durou 10 anos” (https://www.bbc.com/portuguese/articles/c0j5125089do), publicado em 12 de junho de 2023 ressalta que, à medida que se espalhava e ganhava mais adeptos, o movimento também ampliava suas queixas: a piora geral das condições de vida, o despropositado volume de recursos destinado às obras da Copa de 2014, a corrupção na política, o mau desempenho do governo da presidenta Dilma e, somando-se a tudo isto, o alegado "aparelhamento" do estado brasileiro realizado pelo PT, no poder havia mais de doze anos (2003-2016). Essas pautas serviriam de munição aos políticos de direita para fragilizarem ainda mais os partidos de esquerda nos anos seguintes:

"Os legados de junho de 2013 foram apropriados por atores mais à direita e levaram a um fortalecimento na sociedade, cultura e política de agentes que posteriormente construíram o processo de impeachment (contra Dilma Rousseff)", explica Bringel [Breno Bringel, sociólogo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj)].

NOTA: o alegado aparelhamento do Estado brasileiro feito pelo PT seria um processo de politização partidária com uma consequente contaminação ideológica de órgãos da administração pública direta (ministérios e secretarias) e indireta (autarquias, fundações e empresas públicas). A ideologia partidária influiria demasiadamente, afetando a eficiência de entidades como o IBAMA, a FUNAI, as universidades federais, a Petrobras, o BACEN, etc.


No próximo post: a mobilização da sociedade brasileira  pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff.