1º - É elitista: o pronunciamento “Eu odeio a classe média” da professora e intelectual de esquerda Marilena Chaui não é bravata. Ela explica que a conservadora cm sente-se ultrajada ao ver um de seus "esteios", a meritocracia, ser pisoteado por programas inclusivos como o Prouni e o sistema de cotas raciais. Afinal, o “seu” conhecimento técnico-científico, o "seu" capital intelectual, está sendo espraiado, chegando a uma nova e competitiva classe trabalhadora.
2º - É hipócrita: considera-se a guardiã da moralidade, mas não “perde o sono” com a corrupção que assola o país há anos: o Brasil ocupava em 2018 a 105ª posição no “corruptômetro” da Transparência Internacional; pior que Uruguai (23ª), Costa Rica (48ª), Cuba (61ª), Argentina (85ª) e Panamá (93ª), por exemplo. Isto porque, segundo a TI, não tivemos nos últimos anos “qualquer esboço de resposta às causas estruturais da corrupção no país”. Derrubamos a presidenta Dilma Rousseff (2014-2016) acusada de improbidade administrativa (as controversas "pedaladas fiscais") e entregamos o governo interino (2016-2018) ao vice-presidente Michel Temer, atolado em denúncias de corrupção. Além do mais, segundo estimativas do SINPROFAZ, por exemplo, o equivalente a 29% do IR arrecadado hoje é sonegado pela sociedade brasileira. Nos dois casos, a omissão e a cupidez da cm estão presentes e devem ser arroladas entre as tais “causas estruturais".
3º - Não tem ideologia: diferentemente da “elite” e dos mais pobres, usa o voto como ferramenta de protesto, mas usa mal. Exceto por uma minoria intelectualizada e comprometida com algum ideal político ou social, os “classe média”, correm tontos de um lado para outro, da “esquerda” para a “direita” e vice-versa, reconhecendo-se ora aqui, ora acolá, para depois perder-se novamente, aqui ou acolá. A história recente fornece um exemplo emblemático aqui no sul do país: Antônio Britto (político neoliberal do PMDB/1995-1999) foi sucedido por Olívio Dutra (PT, partido de esquerda/1999-2003) e, depois, por Yeda Crusius (neoliberal do PSDB/2007-2011) e por Tarso Genro (PT, partido de esquerda/2011-2015) no governo do estado do Rio Grande do Sul. Em cada uma destas sucessões, marcadas por forte e irrestrito antagonismo, a opinião da cm foi decisiva. No nível nacional, também nunca foi muito diferente. Em 2018, por exemplo, a cm retirou o poder da “esquerda” e entregou à “extrema direita” de Jair Messias Bolsonaro para, nas eleições presidenciais de 2022, fazer exatamente o caminho inverso. Impressionante!
Enfim, “classe média no Brasil” sempre será um tema controverso e sempre estará no centro de qualquer questão política e econômica, para o bem e para o mal.