Visitas ao Blog

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

A Cultura Tradicionalista, nativista e idealista.

Tradicionalismo, nativismo ou gauchismo, não importa o conceito que se escolha, há em todos eles a idealização de um modo de vida que não existe mais e que, em muitos aspectos,  talvez nunca tenha existido. Surpreendentemente, esse mundo romântico dá a todos nós “gaúchos” -do campo, da colônia, da cidade ou do litoral- uma identidade que, mesmo sendo um pouco fantasiosa, nos orgulha e nos dá um sentimento de pertença.

Geralmente mestiços de índios ou negros, os gaúchos tinham uma existência nômade sem residência e sem família. Não possuíam, tampouco, nacionalidade definida: impossível saber se eram brasileiros, uruguaios ou argentinos. Não tinham princípios nem honra. Sempre que podiam, pilhavam e roubavam as estâncias. (Décio Freitas, O Homem que inventou a ditadura no Brasil, Editora Sulina, 1999, p.93).

Pouco nos importa que o gaúcho heroico cantado em versos tenha sido, na verdade, um bandoleiro nômade e sem pátria a serviço de um estancieiro no campo e na guerra. Seu passado revolucionário nos legou belos versos!

Sabe, moço,/ que no tempo do alvoroço/ tive um lenço no pescoço/ que foi bandeira para mim./ E lutei mil peleias,/ em lutas brutas e feias,/ desde o começo até o fim./  [...] E o que restou? Ah, sim/ no peito,/ em vez de medalhas,/ cicatrizes de batalhas/ foi o que sobrou pra mim. (Trecho de "Sabe Moço", Francisco Alves).

 Da mesma forma, a vida campeira nos deixa saudosos de um passado que mal conhecemos (na verdade, duro e miserável):

 [...] Se lembro o tempo de quebra/ A vida volta prá traz/ Sou bagual que não se entrega,/ Assim no mais./ Nas manhãs de primavera/ Quando vou para rodeio,/ Sou menino de alma leve/ Voando sobre o pelego./ Cavalo do meu potreiro/ Mete a cabeça no freio./ Encilho no parapeito,/ Mas não ato nem maneio./ Se desencilha o pelego/ Cai no banco onde me sento,/ Água quente de erva buena,/ para matear em silêncio [...] (Trecho de "Veterano", Antônio Augusto Ferreira e Ewerton Ferreira).

 Enfim, o "nosso" gaúcho (e seu modo de vida) é uma ficção inspirada em homens que, como diz Décio Freitas (Op.cit., p.140), “podiam, em nome de uma causa, cavalgar, combater, matar, roubar e estuprar”. Contudo, ressalta:

Achava Bierce [A. Bierce, jornalista norte-americano enviado para cobrir a Revolução Federalista -1893 a 1895] que havia um movimento literário para transformar o gaúcho em herói nacional [...] tratava-se de fenômeno literário muito semelhante ao que se processava nos Estados Unidos em relação ao caubói (p.140).

Melhor assim!