O paiol era um grande galpão de dois pisos feito com madeira aplainada e telhado de zinco e já não recebia pintura há muito tempo. Abrigava celeiro, estrebaria, palheiro e um depósito onde eram guardados um velho batedor de milho, uma bancada de carpintaria e outras ferramentas, tudo muito antigo e rústico. Numa das extremidades, sob o celeiro que ocupava todo o andar superior, havia uma passagem de chão batido bem larga e de pé direito alto. Ali, ficavam a carreta, um arado, os arreios para as mulas e vários outros utensílios pendurados ou escorados nas paredes. Sempre que a oportunidade surgia, eu corria para lá e, a uma certa distância da passagem, observava meu avô trazer, lentamente pelos cabrestos, a parelha de mulas e posicioná-la na carreta.
Exceto nessas ocasiões, eu as via sempre de longe, no potreiro. Passando assim bem próximas pareciam tão grandes e dóceis! Mas havia que se ter certas cautelas na aproximação, sempre me diziam.
Metodicamente, ele verificava os cascos e montava os arreios: trocava os cabrestos, colocava freios e rédeas, barrigueiras, coalheiras e cordas. Isso tudo me parecia muito complexo e importante em cada detalhe. Naquele momento, a carreta, as mulas e todo o equipamento revelavam no conjunto, enfim, o seu propósito, e o entusiasmo que eu sentia quando era chamado a participar da "função", sinto até hoje.
Ia rapidamente em direção à carreta passando quase rente a um dos animais, tocava-lhe o costado timidamente e subia. Acomodava-me firmemente lá no alto ao lado do meu avô e, então, o conjunto todo, de mais ou menos seis metros de comprimento, era posto em movimento, rangendo e balançando muito. Nossa...! Para mim, com mais ou menos dez anos na época, aquilo era diferente; lá de cima, tudo ao redor ficava mais interessante, não sei, era como ter um novo olhar sobre as mesmas coisas... nunca vou esquecer!
A lembrança do fato em si me é tão cara quanto inúmeras outras lembranças da minha infância, mas o que a torna especial é a sua capacidade de me fazer reviver as emoções daquele momento. Quando digo “reviver”, digo no sentido literal: consigo senti-las novamente, não apenas recordá-las.