Visitas ao Blog

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Memórias Afetivas VI. Resgatando a minha Caloi Berlineta

Já disse em outro post que a vida vai nos empurrado para dentro, cada vez mais para dentro de casa e das interfaces digitais. Os nossos aprendizados e, sobretudo, os das nossas crianças vão ficando limitados geograficamente pelas grades dos nossos condomínios, embora sejamos cidadãos do mundo. Aqui no Brasil, o medo de sair à rua para conhecer e experimentar vai deixando as nossas experiências um pouco descoloridas.

Porém, para mim, nem sempre foi assim! As crianças e adolescentes da minha geração andavam na rua na maior parte do tempo. Vivíamos com os joelhos esfolados, brincando, brigando e “fazendo as pazes”. A vida era uma experiência muito mais sensorial, “corpo a corpo”. Cada um de nós vivia a sua aventura, mas estávamos sempre juntos, nos confrontando e nos reconhecendo, nunca sozinhos, sempre disponíveis e ao alcance do olhar.

Naqueles tempos, quem tinha uma bola de futebol não andava só e as bicicletas... Ah, essas sim...! Não eram, como hoje, uma ferramenta para o esporte ou lazer apenas. Não senhor! Elas nos davam possibilidades! Nos levariam para longe se quiséssemos e eram, sempre, nossas companheiras inseparáveis.

Dos nove aos dezessete anos, cresci  sobre uma bicicleta, uma única, a minha Caloi Berlineta - aro 20”, quadro azul escuro dobrável, guidão alto e um banco muito confortável, possuía um bagageiro fixo e era bem robusta. Gostávamos do estilo naked: retirávamos paralamas, guarda-corrente e bagageiro (quando havia esta possibilidade). Com pneus bem cheios e a corrente bem esticada, disputávamos corridas na rua. A vitória era sempre do conjunto, piloto e bicicleta.

Com ela, também vivi as minhas primeiras aventuras: no início, até o final da nossa quadra, depois, até a outra e, então, até a praça mais próxima e o parque mais distante... Não era só divertimento, era, também, aprendizado e autoafirmação.

Depois, a vida passou, ... novas possibilidades, outras circunstâncias... e a minha Caloi foi ficando esquecida num canto, até que um dia ela, simplesmente, desapareceu... Só hoje me dou conta disto e da sensação de perda que isso me traz... Tentei resgatá-la aqui, nas minhas Memórias Afetivas.