Em 1990, passávamos, aqui no Brasil, por um
período de redemocratização; com trinta anos de idade na época, eu participaria, pela primeira vez, de uma eleição direta para presidente. Havia uma hiperinflação
crônica que nos fazia viver um dia de cada vez sem muita expectativa em relação
ao futuro. O Brasil era, muito mais do que hoje, um país de contrastes
econômicos e sociais e possuía um descompasso tecnológico alarmante em relação
às nações mais desenvolvidas.
Foi neste contexto que iniciei a primeira
leitura do bestseller de Alvin Toffler, A Terceira Onda (Record, 15ªedição) e lembro que mal consegui vencer os quatro capítulos iniciais. O livro escrito em 1980 está estruturado na trajetória de economias maduras,
tecnologicamente avançadas, com altos níveis de renda per capta e
índices razoáveis de inflação: EUA, Alemanha, URSS, Japão e Grã Bretanha entre
outros eram, na década de 80, nações que já haviam completado o seu processo
de industrialização, atingindo a “crista” do que o autor chamou de “Segunda Onda”.
Já experimentavam inclusive, segundo o Toffler, o esgotamento desse modelo e
davam sinais claros do nascimento de um novo ciclo, a “Terceira Onda”.
Em algumas regiões do Brasil, tentávamos
ainda nos consolidar como uma nação industrial, mas enfrentávamos sérios
problemas de infraestrutura, tínhamos inflação e desemprego altos e, portanto, uma
conjuntura pouco atrativa ao investimento. Em outras regiões, ainda
derrubávamos florestas e fazíamos “queimadas” para cultivar alimentos, criar
gado ou para simplesmente “saquear” a natureza. Ou seja, também éramos
tipicamente um país da “Primeira Onda” apesar de alguns segmentos do
agronegócio onde a mecanização e as técnicas modernas de cultivo já nos
tornavam competitivos no mercado externo. Como eu disse, éramos um país de
muitos contrastes (na verdade, ainda somos).
Decorreu talvez desse contexto parte da minha
dificuldade para compreender as ideias de Toffler naquela época. Também o
acesso e, muito mais até, a capacidade de processamento da informação que temos
hoje - um dos legados globais da “Terceira Onda” – não podem ser comparados com o que se tínha há 30, 40 anos.
Enfim, acabando de reler agora essa grande obra
de Alvin Toffler com a vantagem de poder cotejá-la com a história dos últimos
40 anos, constatei uma capacidade de síntese e de previsão notáveis. Conceitos como “Cultura Digital”,
“Diversidade Cultural” ou questões sobre a diversificação da matriz
energética e as novas relações de poder e influência que se fortalecem
atualmente têm algumas de suas primeiras abordagens lançadas nesta obra por Toffler. Sobre ela, pretendo falar nos próximos posts.