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segunda-feira, 18 de maio de 2020

Cem Dias entre Céu e Mar, o livro. Resenha

Cem dias entre céu e mar (Amyr Klink, Companhia de Bolso, 2005), que “caiu na minha mão” mais de trinta anos após o lançamento da sua primeira edição, é um livro surpreendente, não é apenas o relato de uma aventura imaginada, é a história vivida por um homem corajoso e obstinado na travessia do Atlântico Sul, num barco a remo no ano de 1984. As incríveis coincidências que o incentivam a empreender o projeto, as dificuldades para obter informações precisas (há trinta e cinco anos!), o complexo planejamento, as descrenças e os maus presságios antes da partida..., só isso já renderia um grande livro.

As quatrocentas milhas a partir da costa africana, o meridiano de Greenwich, a visão da ilha de Santa Helena, a metade do caminho, a dobra central da carta de navegação e o clarão dos arredores de Salvador são marcos que Amyr destaca ao longo do trajeto, motivos de orgulho e grande emoção. Entre o pequeno e desconhecido Porto de Lüderitz na Namíbia e a Praia da Espera no litoral baiano, foram cem dias no enfrentamento de um ambiente inóspito, porém fascinante.

Descrita numa linguagem ágil e fluente, rica em detalhes náuticos sobre ventos, correntes e rotas, a travessia a bordo do IAT oferece tempestades com ondas gigantescas, visitas inquietantes (algumas encantadoras), situações inusitadas (ouvia o programa da astróloga Zora Yonara no seu radinho a pilhas), muitas descobertas, saudades e reflexões, mas nenhuma solidão.