O infinito, não podemos decifrar a partir da prática que temos com as coisas do mundo. Isto é certo. A física o tem como um paradoxo que expõe os limites da teoria com que ela pretende explicar a realidade; para a matemática, o “infinito potencial” tornou-se uma ferramenta útil, uma espécie de artefato teórico, mas não menos enigmático. Na filosofia, é uma espécie de axioma, uma premissa fundamental, porém indemonstrável. Neste sentido, talvez a teologia, ao ressaltar o seu caráter absoluto, seja quem melhor o defina, afirmando simplesmente que não se pode dividi-lo, medi-lo, compará-lo ou decifrá-lo, apenas aceitá-lo (ou não).
Algo “absolutamente infinito” não tem princípio nem fim e
não os tem nem no espaço, nem no tempo. Na eternidade, o tempo é apenas uma medida
relativa que marca a duração de um ciclo solar, de uma vida, de um movimento ou
de uma estrela. A passagem tempo nada mais é que uma pequena luz que acende e, momentos depois, apaga numa incomensurável e eterna escuridão.
Façamos um teste rápido com a noção mais comum que temos do
infinito: imaginemos um corpo celeste qualquer que passe pela Terra numa
trajetória linear tal que não colida com nenhum outro corpo e não sofra a
influência de qualquer campo gravitacional. O que nos faria mais sentido: que a
sua trajetória, em algum momento, chegasse ao fim por não mais existir espaço a
percorrer ou que, ao contrário, ela se estendesse eternamente pelo espaço sem
fim?
Acho que a segunda alternativa sempre nos será mais
natural ainda que pareça incompreensível e controversa. Por mais cartesianos
ou pragmáticos que sejamos, temos dentro de nós, como algo inato, a intuição de
que o infinito “faz sentido”; conseguimos aceitá-lo intimamente como real.
Então, pensei que, talvez, esta íntima certeza que descrevo aqui seja justamente a sutil, imponderável, mas indelével, marca do Criador na sua criatura.