“O resultado direto desta guerra da natureza que se traduz
pela fome e pela morte, é, pois, o fato mais admirável que podemos conceber, a
saber: a produção de animais superiores. Não há uma verdadeira grandeza nesta
forma de considerar a vida, com os seus poderes diversos atribuídos
primitivamente pelo Criador a um pequeno número de formas, ou mesmo a uma só? [...]”
(Capítulo XV, p. 554 – A Origem das Espécies, Charles Darwin, E-book publicado
por LELLO & IRMÃO
EDITORES,
Porto, 2003)
Nota-se que Darwin (1809 a 1882) faz, aparentemente, uma pequena
concessão à doutrina criacionista atribuindo ao Criador papel primordial na origem
dos seres. Kardec, por sua vez, proclama a ideia de que o Espírito está
submetido por este mesmo Criador a um gradual processo evolutivo.
Mas, não, não há nenhuma sintonia entre os dois pensamentos. Estamos falando, obviamente, de coisas muito distintas.
De um lado, a “Seleção Natural”, teoria polêmica, lançada como uma bomba sobre o pensamento conservador da sua época, mas muito festejada no meio científico (até hoje). Inquestionável.
De outro, a “Doutrina Espírita”, talvez uma nova fronteira para o conhecimento, o autoproclamado “Elo” entre fé e razão. “Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da humanidade” (Allan Kardec, 1804 a 1869).
Fé e razão nunca pretenderam se darem as mãos,
estão confortavelmente instaladas em lados opostos no campo do conhecimento. Assim, a “doutrina espírita”
e toda a teologia permaneceram, praticamente, à margem da Ciência até hoje.
Exatamente nesta fronteira, entre Kardec e Darwin, destaca-se a figura de Alfred Russel Wallace. Ele teve a coragem de explorar os dois lados, foi o que se espera de um homem da Ciência. Não era um aventureiro fanfarão, um oportunista; era, sim, um homem abnegado que arriscou sua reputação e até os seus meios de sustento para investigar um aspecto insólito, mas genuíno da realidade: o espiritualismo.
Leiam o artigo “Are the phenomena of spiritualism in harmony with science?” .
Sobre Wallace, a Britannica diz o seguinte: “Alfred Russel Wallace,
conhecido como AR Wallace, (nascido em 8 de janeiro de 1823, Usk, Monmouthshire,
País de Gales - falecido em 7 de novembro de 1913, Broadstone, Dorset,
Inglaterra), humanista britânico, naturalista, geógrafo e crítico
social. Ele se tornou uma figura pública na Inglaterra durante a segunda
metade do século XIX, conhecido por suas opiniões corajosas sobre assuntos
científicos, sociais e espiritualistas. Sua formulação da teoria da evolução pela
seleção natural, que antecedeu as contribuições publicadas de Charles
Darwin, é seu legado notável, mas foi apenas uma das muitas questões
controversas que ele estudou e escreveu durante sua vida. Os amplos
interesses de Wallace - do socialismo ao espiritualismo,
da biogeografia da ilha à vida em Marte, da evolução à
nacionalização de terras - originaram-se de sua profunda preocupação com os
valores morais, sociais e políticos da vida humana. [...]”
Como cientista naturalista e humanista, Wallace acreditava que a evolução moral e intelectual do espírito é “toda a razão de ser do universo material”.