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sábado, 18 de dezembro de 2021

Entre Kardec e Darwin

“O Espirito não chega a receber a iluminação divina que lhe dá, simultaneamente com o livre arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem passar pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização. Unicamente ao datar do dia em que o Senhor lhe imprime na fronte o seu tipo augusto, o Espirito toma lugar no seio das humanidades.” (Capítulo IV, §19 - A Gênese, Alan Kardec, FEB, Brasília, 2021)

“O resultado direto desta guerra da natureza que se traduz pela fome e pela morte, é, pois, o fato mais admirável que podemos conceber, a saber: a produção de animais superiores. Não há uma verdadeira grandeza nesta forma de considerar a vida, com os seus poderes diversos atribuídos primitivamente pelo Criador a um pequeno número de formas, ou mesmo a uma só? [...]” (Capítulo XV, p. 554 – A Origem das Espécies, Charles Darwin, E-book publicado por LELLO & IRMÃO EDITORES, Porto, 2003)

Nota-se que Darwin (1809 a 1882) faz, aparentemente, uma pequena concessão à doutrina criacionista atribuindo ao Criador papel primordial na origem dos seres. Kardec, por sua vez, proclama a ideia de que o Espírito está submetido por este mesmo Criador a um gradual processo evolutivo.

Mas, não, não há nenhuma sintonia entre os dois pensamentos. Estamos falando, obviamente, de coisas muito distintas. 

De um lado, a “Seleção Natural”, teoria polêmica, lançada como uma bomba sobre o pensamento conservador da sua época, mas muito festejada no meio científico (até hoje). Inquestionável.

De outro, a “Doutrina Espírita”, talvez uma nova fronteira para o conhecimento, o autoproclamado “Elo” entre fé e razão. “Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da humanidade” (Allan Kardec, 1804 a 1869). 

Fé e razão nunca pretenderam se darem as mãos, estão confortavelmente instaladas em lados opostos no campo do conhecimento. Assim, a “doutrina espírita” e toda a teologia permaneceram, praticamente, à margem da Ciência até hoje.

Exatamente nesta fronteira, entre Kardec e Darwin, destaca-se a figura de Alfred Russel Wallace. Ele teve a coragem de explorar os dois lados, foi o que se espera de um homem da Ciência. Não era um aventureiro fanfarão, um oportunista; era, sim, um homem abnegado que arriscou sua reputação e até os seus meios de sustento para investigar um aspecto insólito, mas genuíno da realidade: o espiritualismo.

Leiam o artigo “Are the phenomena of spiritualism in harmony with science?” .

Sobre Wallace, a Britannica diz o seguinte: “Alfred Russel Wallace, conhecido como AR Wallace, (nascido em 8 de janeiro de 1823, Usk, Monmouthshire, País de Gales - falecido em 7 de novembro de 1913, Broadstone, Dorset, Inglaterra), humanista britânico, naturalista, geógrafo e crítico social. Ele se tornou uma figura pública na Inglaterra durante a segunda metade do século XIX, conhecido por suas opiniões corajosas sobre assuntos científicos, sociais e espiritualistas. Sua formulação da teoria da evolução pela seleção natural, que antecedeu as contribuições publicadas de Charles Darwin, é seu legado notável, mas foi apenas uma das muitas questões controversas que ele estudou e escreveu durante sua vida. Os amplos interesses de Wallace - do socialismo ao espiritualismo, da biogeografia da ilha à vida em Marte, da evolução à nacionalização de terras - originaram-se de sua profunda preocupação com os valores morais, sociais e políticos da vida humana. [...]”

Como cientista naturalista e humanista, Wallace acreditava que a evolução moral e intelectual do espírito é “toda a razão de ser do universo material”.