Após ouvir o pronunciamento do presidente Bolsonaro no dia 24 de março sobre a pandemia de coronavírus e confrontá-lo com informações, orientações, declarações e exemplos que
me chegam -acho que posso dizer- do mundo, desejo, modestamente, oferecer
algumas ponderações que, acredito, acompanham com razoável aproximação aquilo
que costumamos entender por bom senso.
Sim, há que se ter muita determinação para tomar
decisões e assumir as responsabilidades decorrentes num cenário que, como este,
envolve situações tão complexas nas áreas da saúde, da economia e na vida em
sociedade de um modo geral. Porém, determinação e coragem -inclusive para enfrentar as
inevitáveis controvérsias decorrentes das ações que o momento exige- não bastam.
O número de infectados no Brasil comparado com o total da população é insignificante, é verdade: hoje, 25 de março, o número de infectados no Brasil é de 2.201 com uma taxa de “letalidade” de aproximadamente 2,1% (menos da metade da média mundial, segundo dados da OMS). Ou seja: ainda estamos no controle da situação.
O número de infectados no Brasil comparado com o total da população é insignificante, é verdade: hoje, 25 de março, o número de infectados no Brasil é de 2.201 com uma taxa de “letalidade” de aproximadamente 2,1% (menos da metade da média mundial, segundo dados da OMS). Ou seja: ainda estamos no controle da situação.
Da China vêm informações, a princípio,
estatisticamente confiáveis e que, me parece, podem embasar um prognóstico
razoável para o nosso caso (ademais, ao contrário do que aconteceu por lá,
talvez atinjamos o pico da doença antes do começo do inverno, o que nos dá
certa vantagem).
81% dos infectados são assintomáticos ou apresentam
sintomas leves;
14% dos casos apresentam sintomas mais severos, mas
não resultam em óbito;
5% são os casos mais críticos, que podem conduzir
ao óbito. Destes casos, entre 3,5% e 4% são idosos
com mais de 60 anos que já conviviam com alguma doença.
Dados do IBGE projetam para 2020
aproximadamente 30.000.000 de pessoas com mais de 60 anos. Segundo o Estudo
Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI 2015/2016) realizado com apoio da FIOCRUZ, mais de 50% da
população brasileira com mais 50 anos sofre com alguma doença: diabetes,
acidente vascular encefálico, asma, câncer, artrite -numa conta bem conservadora, mais de 15.000.000 de pessoas.
No chamado “isolamento vertical” pretendido por Trump e Bolsonaro, isolaríamos os
grupos de maior risco (segundo as estimativas acima, 15.000.000 de brasileiros -um número estratosférico seja qual for a situação ou ponto de vista que se considere neste caso) deixando os demais se contaminarem para adquirirem, desta forma, a chamada “imunidade
de rebanho”. Segundo a maior parte da comunidade científica, a teoria (que não considera a possibilidade de recontaminação) ainda
carece de uma fundamentação empírica consistente.
Suponhamos ainda que nem todas as pessoas adquiram anticorpos ou que o vírus sofra alguma mutação (há casos de recontaminação na China) ou, ainda, que o pico da doença -mesmo "acelerando" o contágio- se arraste até o inverno: perderíamos o controle (relativo) que, hoje, temos da situação. Poderia haver um colapso do sistema de saúde, pois, mesmo no melhor cenário possível, talvez não existissem vacinas para todos (na verdade, a previsão para o início da produção, me parece, é de mais de um ano).
Suponhamos ainda que nem todas as pessoas adquiram anticorpos ou que o vírus sofra alguma mutação (há casos de recontaminação na China) ou, ainda, que o pico da doença -mesmo "acelerando" o contágio- se arraste até o inverno: perderíamos o controle (relativo) que, hoje, temos da situação. Poderia haver um colapso do sistema de saúde, pois, mesmo no melhor cenário possível, talvez não existissem vacinas para todos (na verdade, a previsão para o início da produção, me parece, é de mais de um ano).
Sério, neste momento, “apostar” em uma teoria salvadora e “ver no que vai dar”, convenhamos, pode ser até criminoso (vale a pena acessar o link acima e ler na íntegra o artigo da BBC). Até agora, 25 de março de 2020, o “isolamento social amplo”, até que tenhamos condições de fazer, ao menos, testagens em grande escala, me parece mais sensato se o que desejamos priorizar é a preservação do maior número possível de vidas.
Perdas econômicas haverão para todos nós, com
certeza. Talvez, como dizem alguns economistas, o “remédio seja mais letal que a
própria doença”, quem sabe? Num cenário de “isolamento social”, do que se
sustentam as diaristas, as manicures, os barbeiros, os vendedores ambulantes,
os garçons freelancer, os motoboys...? E os empregos formais serão
mantidos? Por quanto tempo? A que custo? Estas questões também tiram o sono do
nosso Presidente. Como minimizar os efeitos da crise iminente?
Podemos tentar a redução de impostos no setor
industrial, a desoneração das folhas de pagamento, a redução temporária dos
salários ou o seu parcelamento (aliás, esta situação já vem sendo vivida pelo
funcionalismo público no Poder Executivo do Estado do Rio Grande do Sul há,
pelo menos, cinco anos). Distribuição de cestas básicas e Bolsa Família em maior escala...? E os recursos, hoje muito bem empregados nas áreas da cultura, esportes e turismo, não poderiam, temporariamente, reforçar o orçamento da saúde? Além disso, no Brasil os aposentados são o esteio
de muitas famílias e cada centavo recebido vai direto para o consumo de
alimentos e remédios, talvez se possa reduzir-lhes as alíquotas do IR ou isentá-los.
Enfim, Sr. Presidente, acho que vale a pena tentar uma
saída mais conservadora, ao menos por enquanto.