Visitas ao Blog

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

A Poesia da Vida II. O sol do meio-dia

Certa vez, olhando para o céu tive a vontade de escrever um post sobre o sol. Percebi imediatamente que seria muito difícil para mim falar da alvorada ou do crepúsculo e das paisagens que produzem, dos sentimentos que provocam, etc. Seria difícil abstrair algo que já não tenha sido cantado, declamado, desenhado e repetido. Falar dos equinócios e solstícios, dos seus poderes e temperos, achei muito complexo. Resolvi, então, falar de algo mais óbvio e contundente, "o sol do meio-dia".

No ponto mais alto da sua trajetória diária, na  hora em que é mais implacável -a hora em que as sombras se escondem debaixo dos seus objetos-, o sol me acolhe e abranda as aflições da alma. Neste momento abençoado, não há conflitos para mim, também não há inspiração, nada me é revelado, há somente a paz da solidão.

Sob o sol do meio-dia, me percebo imerso numa grande bolha de calor, onde flutuo só, entorpecido: fecho os olhos e apenas sinto o corpo transpirar sem tensão. Não penso em nada, não faço abstrações; deixo os pensamentos surgirem e, naturalmente, se dissolverem nesta atmosfera. 

Experimente! Mas, cuidado: quando -ao menor sinal de que o corpo se ressente- a bolha se desfaz, o sol acolhedor e dissolvente mostra-se, também, impassível e inclemente.