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sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Memórias Afetivas V. Uma torre em brasas

Era inverno em Paris e visitávamos a cidade pela primeira vez: obras de arte a céu aberto, imensos jardins, avenidas grandiosas, ruelas pitorescas, cafés e boulangeries encantadores, encontros com a História em cada esquina... você fica embasbacado entre tantos “Monets”, “Rodins”, “Van Goghs”, museus, igrejas e outros sítios centenários. Já imaginou entrar na Notre Dame e ser surpreendido por uma audição sendo executada no seu monumental órgão de tubos!? Bom, no meio disto tudo, a velha Torre -que avistávamos frequentemente, de longe, durante os nossos deslocamentos- ficou para o final.

Fomos à noitinha -pois estaria iluminada-, descemos na estação Trocadéro saindo bem em frente ao Théâtre National de Chaillot. Seguimos à direita pela calçada do teatro (a fachada com “pé direito” muito alto impedia qualquer visão antecipada) na direção do Terrasse du Trocadéro. Dalí sim, logo que passássemos o prédio, teríamos uma visão ampla de todo o sítio da Torre.

Imediatamente, após passarmos o teatro -de coração aberto e sem muitas expectativas-, uma cortina se abriu revelando o cenário surpreendentemente luxuoso de um grande espetáculo. Não consigo lembrar de nada mais impactante: lindamente iluminada e elegantemente postada na imensidão do Champ de Mars, a enorme Torre era uma presença absoluta, inesquecível!

Daquela visita, guardo duas fotografias. Na época, usávamos uma máquina bem simples com filme de nitrato de prata ISO 200 (para quem não sabe o que é: você só vê o resultado depois de revelar o filme inteiro), bastante versátil para amadores como eu, exceto à noite. Carregava-a comigo apenas para um registro (precário) da visita. Depois, inconformado com a possibilidade de não levar ao menos um lampejo do grande espetáculo que eu havia visto naquela noite, saquei fora o flash, regulei intuitivamente o obturador (para um tempo maior de exposição) e dei dois “cliques” ao pé da Torre. Fiquei contente por fazer a tentativa, mas não tinha esperança de conseguir um bom resultado.

Duas semanas depois... Surpresa! Uma torre em brasas! Embora as fotos e a metáfora revelem um pouco da intensidade daquelas cenas, nem de longe conseguiram capturar a inteireza e o fascínio. Mesmo assim, fiquei satisfeito com o resultado.

Infelizmente, ela nunca mais se mostraria, assim, para mim. Acho que é impossível sentir-se tão impressionado com a beleza como quando a contemplamos pela primeira vez.